As modificações sociais, econômicas e tecnológicas que surgiram com a Revolução Industrial proporcionaram uma nova dinâmica na sociedade, repercutindo pontualmente em seu modo de produção e consumo. Tal Revolução abrangeu uma ampla fase de comercialização e difusão produtiva, acelerando o ritmo da comunicação social, impactando de maneira direta nos métodos de transmitir a informação; entre eles pode-se citar a fotografia.
Os componentes ópticos da fotografia já eram conhecidos e trabalhados anterior a Revolução Industrial. Porém, sua conceituação se dava por processos fotoquímicos no interior de um quarto ou caixa escura com uma abertura que possibilitava a passagem de luz, projetando a imagem desejada - essa caixa era conhecida como câmara escura, como mostra a Figura 1, e o seu funcionamento é semelhante ao do olho humano. Em meados do século XVII, desenvolveu-se uma miniaturização de tal ferramenta, eram as pequenas câmaras escuras portáteis.
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Figura 1: Na câmara escura a luz que reflete dos objetos passa por um
orifício e se projeta, invertida, no lado oposto.
Por volta de 1822, Joseph Nicéphore Niépce, um impressor litográfico de imagens religiosas, produz pela primeira vez uma imagem fotográfica, entrelaçando a fotografia nos processos gráficos e comunicativos. A invenção foi feita da seguinte forma:
“Ele revestiu uma folha de peltre com um betume sensível à luz, chamado betume da Judeia, que se enrijece quando exposto à luminosidade. Em seguida, fez uma cópia-contato de um desenho, que havia sido untado com óleo para torná-lo transparente, sobre o peltre usando a luz solar. Depois lavou a lâmina de peltre com óleo de lavanda para remover as partes não endurecidas pela luz e então a queimou com ácido para fazer uma cópia incisa do original. Niépce chamou sua invenção de heliogravura (gravação pelo sol).” (MEGGS, 2009, p. 185)
As lâminas de peltre também foram utilizadas para aprimorar sua descoberta em 1826. Niépce posicionou-as no fundo da câmara escura em contraposição de um foco de luz, possibilitando que fosse registrado fotografias direto da natureza.
Isto posto, é imprescindível pontuar que o processo fotográfico desenvolvido por Niépce iniciou uma longa série de aperfeiçoamentos no mesmo período. Um dos estudiosos que contribuíram para a modernização do invento foi o artista e pintor Louis Jacques Daguerre. Daguerre refinou diversos processos de fabricação das ferramentas da máquina banhando a folha de cobre em prata e trabalhando em compostos químicos para iodizar (adicionar/aplicar iodo). O resultado foi uma imagem luminosa e brilhante, com uma nitidez não vista até o presente momento e com uma imensa quantidade de detalhes, cunhando o produto dessa máquina de daguerreotípicas. E, no ano de seu lançamento, foram feitos meio milhão de daguerreotípos em Paris. A Figura 2 traz a representação de um Daguerrótipo.
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Figura 2: Daguerrótipo, primeiro processo fotográfico a ser anunciado e comercializado ao grande público.
Outros indivíduos também produziram estudos e instruções a respeito do domínio fotográfico no mesmo período. William Henry Fox Talbot, na Inglaterra, e o químico John Herschel foram algumas dessas pessoas. Talbot, a partir de seu desejo em registrar imagens das paisagens do mundo, realizou estudos e com soluções concentradas de nitrato de prata e um composto insolúvel, cunhou seus produtos de desenhos fotogênicos, e já que eram expostos a luz solar, como mostra a citação abaixo:
“Quando ele colocava um pedaço de renda ou uma folha de planta comprimidos firmemente contra o papel por meio de uma placa de vidro e o expunha à luz solar, o papel em torno do objeto lentamente escurecia. Lavando essa imagem com uma solução de sal ou iodeto de potássio, fixava-a um pouco, tornando o composto de prata não exposto bastante insensível à luz.” (MEGGS, 2009, p. 187)
Talbot, após deixar sua pesquisa de lado, retorna anos depois com o método de Daguerre. Herschel, diante de tudo que estava ocorrendo, utilizou tiossulfato de sódio para tornar permanente a imagem pela interrupção da ação da luz, comunicando suas descobertas a Talbot, e disseminando o seu conhecimento. Em 1844, frente a tantas inovações e procedimentos químicos, Talbot lança um livro The Pencil of Nature, com 24 fotografias montadas à mão e cravando a obra como um marco histórico para a “nova arte”.
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Figura 3: Livro The Pencil of Nature, de William Henry Fox Talbot, primeiro livro ilustrado com fotografia.
Com o rápido desenvolvimento tecnológico nos meios de comunicação, a fotografia tornou-se rapidamente um meio de consumo completamente acessível à população no geral. Por apresentar custos relativamente reduzidos e estar cada vez mais compacta, é raro encontrar alguém que, mesmo não tendo conhecimentos técnicos ou não sendo profissional da área, não possua algum aparelho eletrônico que tire fotografias, sejam elas analógicas ou digitais. Em Filosofia da Caixa Preta, Vilém Flusser afirma que:
“impõe-se a conclusão paradoxal: quanto mais houver gente fotografando, tanto mais difícil se tornará o deciframento de fotografias, já que todos acreditam saber fazê-las.” (FLUSSER, 2009, p. 55)
Muitos acreditam e afirmam que a fotografia é uma forma simples de obter registros que servirão, no futuro, como uma fonte documental, mas é importante saber que além do caráter documental a fotografia pode adquirir diversos outros significados, sendo caracterizada como uma fonte de comunicação multifacetada. E, assim como o texto, a fotografia também é suscetível à diversas interpretações que muitas vezes não são percebidas, pois ela é feita de maneira imediata e por diversos públicos com diferentes vivências, afinal:
“Quando vemos uma imagem fotográfica e lhe atribuímos um sentido estamos lendo aquela imagem.” (CAMARGO, 1999, p.149).
Desde que surgiu, a fotografia tem sido correlacionada a um status maior de credibilidade por possuir um caráter de fixação de imagens reais, com uma fidelidade nunca vista antes. Por isso, foi muito utilizada em registros documentais e eventos históricos, tais como as Grandes Guerras. E assim como as diversas formas artísticas existentes, a fotografia profissional necessita de um grande aparato técnico, criatividade e sensibilidade.
Na segunda metade do século XIX, há um grande aumento de produção e veiculação de imagens e impressos. Assim, a fotografia alcança seu máximo prestígio e ao mesmo tempo banalização, devido ao grande número de imagens circulando.
“A fotografia completou o processo de transformar a imagem em mercadoria abundante e barata, mas ironicamente, essa abundância toda acabou por esvaziar as imagens de uma parte do seu poder simbólico tradicional.” (CARDOSO, 2004, p. 53)1999, p.149).
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Figura 4: Briga entre trabalhador e policial militar na mina de Serra Pelada - 1986, por Sebastião Salgado
Se tratando do enquadramento da fotografia e de suas incitações a reflexão sobre o mundo, Sebastião Salgado se consagrou como um dos principais profissionais de sua área, realizando diversos ensaios em regiões inóspitas e centralizando a sua lente nos mais desfavorecidos. Seus registros são mundialmente conhecidos, memorizando em seus álbuns os mais variados grupos e momentos. Dedicando sua vida inteira, Salgado é considerado por seus feitos artísticos como inclusivo, realizando um trabalho humanitário e com um alto teor social. Sua câmera retratou a realidade de forma ímpar, entrelaçando a arte, a técnica e o talento para se manifestar, fazendo isso de maneira magnífica.
A evolução técnica e teórica da fotografia, um instrumento e processo para o registro exato do mundo real, assim como os estudos dos segmentos relacionados ao design, permitiram um entrelaço e incorporação entre as duas áreas. O resultado de tal interligação é visível e verificável em diversas camadas do mundo atual, sendo extremamente importante e imprescindível o seu estudo e a aperfeiçoamento para a compreensão e manifestação dos sentimentos, interesses e desejos humanos.
No design gráfico, a fotografia auxilia o comunicador na transmissão da mensagem. O processo compositivo da fotografia é um passo crucial e que vai determinar o objetivo e significado da manifestação visual, bem como aquilo que ele quer que o espectador analise em primeiro plano. Para uma fotografia passar pelo olhar, muitas vezes desatento, do espectador e não ser vista como mais uma simples imagem sem relevância alguma, ela precisa ter um diferencial, provocar algum sentimento ou expressar alguma emoção, elevando a importância da experiência do profissional em materializar o seu propósito na fotografia. Ele irá escolher o melhor ângulo para capturá-la, que sentimento pretende que seja transmitido e que mensagem deseja passar, ou seja, o fotógrafo raramente é imparcial em seus artefatos.
Segundo Samara (2011) o conteúdo da comunicação ajuda o designer a tecer uma expressão unificada na qual a tipografia e a imagem jogam no mesmo time, de igual para igual e os resultados de uma integração mal feita podem ser desastrosos. Por isso, juntar palavras com imagens significa encontrar uma harmonia visual que é capaz de otimizar a leitura do texto e, simultaneamente, adicionar uma dimensão conceitual à imagem:
“Essa conexão pode ser de textura (como ao encontrar um elemento dentro de uma fotografia que possa ser mimetizado pelo ritmo de uma palavra ou frase) ou estrutural (como na utilização de retângulos verticais de colunas de texto em contraste com retângulos horizontais de fotografias). A interação entre palavras e imagens acontece como resultado de semelhanças ou oposição em suas características abstratas, pictóricas. A tarefa é encontrar pontos de contato entre os atributos específicos de ambos” (SAMARA, 2011, p. 84)
Mediante o exposto, é possível compreender que a relevância e a evolução dos métodos e técnicas da fotografia são inquestionáveis. Ela representa muito mais do que um meio de comunicação simplesmente documental, ela simula o real, não faz um retrato fidedigno, pois, como já dito, é baseada também no olhar e nas experiências do profissional; ela representa, transmite emoções e desperta interesses dos mais variados. Já o design, especialmente o design gráfico, como uma vasta área de estudo e trabalho, é contemplado por esse desenvolvimento e revela um imenso leque de possibilidades e aprofundamento da comunicação. O design planeja, estrutura, concebe e materializa ideias e, juntamente com a fotografia profissional, é um importante instrumento estético e comunicativo diferenciando-se da maioria das imagens veiculadas diariamente, visto que imagens bem compostas ajudam a prender a atenção do leitor, garantindo valor conceitual, estético e informativo.
REFERÊNCIAS
MEGGS, Philip B. História do Design Gráfico. 1. ed. rev. São Paulo: Cosac & Naify, 2009. 720 p. ISBN 978-8575037751.
SAMARA, Timothy. Guia de tipografia: manual prático para o uso de tipos no design gráfico. 1. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011. 240 p. ISBN 978-8577807703.
SCHONARTH, Ana Júlia. O olhar fotográfico: os princípios do design para a composição da fotografia. Orientador: Porf. Me. Augusto Alves. 2014. 73 p. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em Design) - Centro Universitário Univante, Lajeado, 2014.
KAWAKAMI, Tatiana Tissa. A popularização da fotografia e seus efeitos: um estudo sobre a disseminação da fotografia na sociedade contemporânea e suas consequências para os fotógrafos e suas produções. Projética, Londrina, ano 6, v. 3, p. 168-182, 2012.
FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro: Sinergia RelumeDumará, 2009.
CAMARGO, Isaac Antonio. Reflexões sobre o pensamento fotográfico: pequena introdução às imagens e a fotografia. Londrina: Eduel, 1999.
CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Blucher, 2004.
MARTINS, Célia. A imagem fotográfica como uma forma de comunicação e construção estética: Apontamentos sobre a fotografia vencedora do World Press Photo 2010. Porto/Portugal: Resultados da pesquisa Resultado da Web com links de sites Universidade Fernando Pessoa, 2013. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/martins-celia-2013-imagem-fotografica-como-uma-forma-de-comunicacao.pdf. Acesso em: 24 nov. 2019.
Texto desenvolvido por Luciana Mirelly Gomes Duarte sob a orientação do Prof. Dr. Rodrigo Boufleur, para a disciplina Introdução ao Estudo do Design. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design” (http://estudossobredesign.blogspot.com) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2019.