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Imagem e fotografia na era da comunicação em massa e o papel de designers e artistas visuais

O rumo da fotografia da atualidade perpassa diferentes espectros da comunicação, seja utilizada para fins pessoais, comerciais ou informativos, a partir do registro e da captura de uma dada realidade. Desde sua invenção, a partir da renovação de técnicas que tornasse possível a revelação da imagem captada, a sociedade usufrui de seus benefícios e se apropria cada vez mais de seus artifícios.

Atualmente, notamos cada vez menos o protagonismo da figura do fotógrafo e outros artistas visuais no manuseio e difusão de imagens quanto ao acesso e à captura da luz de momentos, peças publicitárias ou registros documentais jornalísticos, uma vez que o Instagram (rede social da imagem) permite a usuários disporem seus álbuns numa rede social apelativamente visual. Abordada, inicialmente, como recurso de registro, “a fotografia e a comunicação gráfica estiveram estreitamente vinculadas a partir das primeiras experiências para capturar uma imagem da natureza com uma câmera (MEGGS, 2009, p. 185)”, desde a câmara escura ao desenvolvimento de técnicas e instrumentos, a exemplo do daguerreótipo. Até que “[...] um fabricante norte-americano de lâmina seca, (1854-1932), colocou o poder da fotografia nas mãos do público leigo quando lançou sua câmera Kodak [em 1888]. Foi uma invenção sem precedentes, pois qualquer pessoa a partir de então podia criar imagens e registrar sua vida e experiências (ibidem, p. 189)”.

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Modelo Brownie da Kodak, considerado o primeiro modelo acessível de máquina fotográfica.

Se hoje a base da fotografia pode ser atribuída aos artefatos tecnológicos cada vez mais instantâneos, quiçá a imagens impressas de polaroides ou revelações de laboratório com filmes de rolos, “antes da possibilidade de imprimi-la, a fotografia foi usada como ferramenta de pesquisa no desenvolvimento de ilustrações xilográficas (ibidem, p. 190)”, considerando que estas por muito tempo estiveram presentes nos processos de ilustração de diferentes mídias como livros, jornais e revistas. Portanto, diferentes bases moldaram a técnica que hoje conhecemos, tendo esta última como destaque, já que “[...] o alcance da fotografia ainda era seriamente limitado pela necessidade de preparar uma lâmina úmida pouco antes de fazer a exposição e de processá-la logo depois (ibidem, p. 189)”.

Na atualidade

 

Uma imagem não precisa mais estar associada a uma única mídia (ao filme para o registro, ao papel fotográfico para a reprodução). Em sua condição de crossmedia, ela pode ser registrada uma vez (via máquina fotográfica), armazenada (do cartão de memória ao DVD) e reproduzida de diferentes maneiras (por monitores de TV, pelo telefone celular). O mesmo se dá em termos de edição: programas com este fim já se encontram presentes no próprio dispositivo, nos computadores de mesa, online, etc (VIANNA; CAMPOS, 2011).

 

É aí que designers e artistas visuais entram em cena. O tratamento e o uso de imagens agora serve a novos fins. Desde o boom da era de comunicação de massa, a própria comunicação visual se expandiu com uma difusão e reprodução de imagens, muitas elas tendo a imagem de câmeras como elemento publicitário, sobretudo na publicidade política no século XX.

Presente hoje em toda mídia visual, a imagem é direcionada a diferentes representações e interpretações. Cada profissional trabalha seu produto visual para atingir determinado impacto quanto à recepção de leitores. A mídia jornalística aproveita bastante dos efeitos e potenciais fotográficos como aponta Vianna e Campos (2011):

Uma imagem não trabalhada de um político em campanha, apertando a mão de um criminoso num evento público, pode ser, fora de seu contexto de origem, abertamente interpretada. Uma imagem alterada por um programa de edição decerto dará margem a leituras bem diversas da que se poderia considerar original”. (p. 5).

 

E quanto tratamento e trabalho editorial dessa imagem? Apesar dos fotógrafos serem os primeiros captadores e comunicadores desse “registro da luz”, é notável e os mesmos autores assinalam a fotografia a partir de seu caráter linguístico, o que “faz dela uma atividade cujo grau de originalidade será determinado pelo uso, assim como o uso particular da língua pode determinar o significado ou valor de um termo ou de uma expressão dentro de um idioma (ibidem, p. 6)”. Dessa forma, cada usuário e manipulador de imagem dá o tratamento aplicado a finalidade e o objetivo de difusão desta. Uma vez que na forte presença de modalidades comunicativas como o fotojornalismo unem à foto o fato alvo de rendimentos publicitários, esta se faz manipulada por profissionais que dão tratamento mais aplicado à simples captura de eventos. Bazin (1991) aponta que sua objetividade


 

confere-lhe um poder de credibilidade ausente de qualquer obra pictórica. Sejam quais forem as objeções de nosso espírito crítico, somos obrigados a crer na existência do objeto representado, literalmente representado, quer dizer, tornado presente no tempo e no espaço (BAZIN, 1991, p. 22)

 

Numa era na qual produto e imagem não se dissociam, artistas visuais e designers unem técnicas às fotografias vendendo a partir de imagens, conceitos, ideias, serviços entre uma infinidade de produtos. Em se tratando de uma linguagem que se sobressai a outras formas de registro visual, dado ao seu realismo, o uso de fotografias se distribui entre as esferas profissionais, em especial dos artistas visuais, editores e designers. Considerando a ausência de efemeridade, o trabalho desses profissionais ajuda a perpetuar a captura imagética em eventos, produtos, trabalhos gráficos e difusão de conteúdos visuais em mídia impressa e digital, inclusive inovando e tornando produções visuais cada vez mais acessíveis. Portanto, é possível conceber essa linguagem visual como instrumento fluido da cultura visual de nosso tempo e um marco na história social pós o advento de sua invenção.

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Artista visual Gabriel Bonfim torna fotografias acessíveis a deficientes visuais em exposição “Da fotografia a Tactography”. Fonte: O Globo.

REFERÊNCIAS

BAZIN, André. Ontologia da imagem fotográfica. In O Cinema: Ensaios. Bazin, André. São Paulo: Editora Brasiliense, 1991. p. 19-26.

MEGGS, Philip B; PURVIS, Alston W; MOREIRA, Cid Knipel. História do design gráfico. São Paulo: Cosac & Naify, 2009.
SILVA, Wallace V. da ; CAMPOS, Jorge Lucio de . Fotografia, design, linguagem: Uma breve digressão. BOCC. Biblioteca Online de Ciências da Comunicação, v. 14, p. 1-6, 2011.

Texto desenvolvido por Gleidson Felipe Justino da Silva para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2019. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo N. Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com).

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