Da mistura de argila e cola, desenvolvida pelo alquimista chinês Bì Sheng por volta de 1045, aos mais variados modelos digitais que conhecemos hoje, a tipografia teve um papel primordial para a comunicação e democratização da informação.
Com a chegada da Revolução Industrial, a função do tipo móvel, que até o século XIX se restringia a disseminação de informações por meio de livros e folhetos, foi remodelada para atender as demandas de uma sociedade cada vez mais urbana e industrializada, com um ritmo mais rápido e com uma necessidade de comunicação em massa cada vez mais emergente (MEGGS, 2009, p. 175).
Essa urgência na propagação das notícias demandava um impacto visual e novos caracteres acessíveis e expressivos, segundo Meggs:
“Não era mais suficiente que as letras do alfabeto funcionassem apenas como símbolos fonéticos. A era industrial transformou esses sinais em formas visuais abstratas, projetando poderosas figuras de forte contraste e grandes dimensões” (2009, p. 176).
Isso fez com que nas primeiras décadas do século XIX houvesse uma avalanche inédita de novos desenhos de tipos, que proporcionou a expansão rápida de impressores de material publicitário, anúncios e cartazes.
A Inglaterra protagonizou nesse período muitas inovações, e com a tipografia não foi diferente. Meggs (2009, p. 176) aponta o primeiro William Caslon como avô dessa revolução, além de seus herdeiros, dois de seus ex-aprendizes, demitidos por liderarem uma revolta de trabalhadores, Joseph Jackson e Thomas Cotterell, tornaram-se por conta própria prósperos designers e fundidores de tipos.
Foi nessa época que surgiram os tipos gordos (fat faces), categoria importante de design que foi inovada pelo Robert Thorne por volta de 1803 (MEGGS, 2009, p. 177).

Figura 1: O tipo gordo é um tipo romano cujo contraste e peso foram aumentados pela expansão da espessura dos traços pesados.
As fontes egípcia que vieram ao mundo transmitindo uma sensação pesada, mecânica, por meio de serifas retangulares em forma de lajotas, peso uniforme em todo o corpo da letra e ascendentes e descendentes curtas, se tornando a segunda maior inovação do design de tipos do século XIX (MEGGS, 2009, p. 177).
Além delas foram criadas também as jônicas, a Clarendon e ainda estilos que projetavam a ilusão de três dimensões e pareciam antes objetos corpulentos que sinais bidimensionais.
Mas, ainda que a variedade dos tipos móveis fosse cada vez maior seu processo de produção e aplicação ainda era bastante demorado e caro. Por volta da metade do século XIX, as impressoras podiam produzir 25 mil cópias por hora, entretanto, cada letra de cada palavra de cada livro, jornal ou revista precisava ser composta manualmente (MEGGS, 2009, p. 183).
Diversas pessoas trabalharam arduamente para criar uma máquina que otimizasse o processo de compor tipos, foi um longo caminho até que em 1825 as primeiras patentes começaram a ser registradas, porém, apenas em 1886 quando Ottmar Mergenthaler aperfeiçoou sua máquina Linotype, que pode-se constatar resultados realmente significativos (MEGGS, 2009, p. 183).
Segundo Meggs:
“Muitas pessoas, entre elas o escritor Mark Twain, investiram milhões de dólares na busca da composição automática. Antes da invenção da linotipo, o alto custo e o ritmo lento da composição limitavam até os maiores jornais diários a oito páginas e os livros continuavam relativamente preciosos” (2009, p. 183).
De acordo com Meggs (2009, p. 183), em 3 de julho de 1886, o imigrante alemão Mergenthaler que trabalhava numa oficina mecânica de Baltimore fez uma demonstração de sua máquina operada por teclado no escritório do New York Tribune. Whitelaw Reid, editor do Tribune, teria exclamado: “Ottmar, você conseguiu! Uma linha de tipos (a line o’type)”. A nova máquina recebeu seu nome dessa reação entusiástica.

Figura 2: A Linotype Modelo 5 se tornou a força motriz da composição, com teclados e matrizes disponíveis em mais de mil idiomas.
Por volta de 1880 (seis anos antes da Linotype), era oferecido pelos jornais de Nova York mais de meio milhão de dólares em prêmios para quem conseguisse criar uma máquina que reduzisse em 25 a 30 por cento o tempo do tipógrafo; a máquina Linotype de Mergenthaler era capaz de fazer o trabalho manual de sete ou oito tipógrafos. Esse fato evidenciou a urgência que a sociedade daquela época tinha em otimizar esse processo e aumentar a disseminação de informações.
O desenvolvimento da linotipo, fez com que milhares de tipógrafos altamente qualificados fossem demitidos, mas essa nova tecnologia impulsionou uma explosão inédita de material gráfico, gerando diversos outros novos empregos.
A máquina de Mergenthaler desencadeou um aumento exacerbado na produção de periódicos, e os semanários ilustrados. Em 1887, um norte-americano, Tolbert Lanston, inventou a máquina Monotype, que fundia caracteres individuais de metal quente. Em apenas uma década a Monotype tornou-se eficiente o bastante para ser incorporada à produção (MEGGS, 2009, p. 184).
Com os crescente avanços tecnológicos os tipos de metal compostos manualmente encontravam cada vez menos mercado. Com as máquinas Monotype e a Linotype em circulação, a necessidade de tipos de fundição era cada vez menor.
Dessa forma foi gerado um cenário de preços devastador, a competição era violenta e os descontos relacionados a essas mercadorias chegavam a mais de cinquenta por cento. Numa tentativa de estabilizar essa indústria, expulsando do mercado as fundições mais fracas e com isso reduzindo a capacidade excedente, ocorreu em 1892 a fusão de catorze fundições na American Type Founders Company. Mas ainda sim a pirataria do design cresceu descontroladamente.
“Após as fundições lançarem novos tipos, os concorrentes imediatamente eletrotipavam os novos desenhos, depois fundiam e vendiam tipos a partir das matrizes falsas. No fim do século, a indústria da fundição de tipos se estabilizou” (MEGGS, 2009, p. 184).
Encontrando um nicho menor, porém de suma importância, a composição tipográfica manual em metal, comprometeu-se no fornecimento de tipos display para publicidade e manchetes editoriais até o advento da fotocomposição nos anos 1960.
Outros avanços tecnológicos possibilitaram que tipos compostos mecanicamente fossem impressos em papel fabricado também mecanicamente, com impressoras de alta velocidade movidas a vapor. Havia uma disseminação mundial de palavras e imagens e chegava a era da comunicação de massa (MEGGS, 2009, p. 184).
REFERÊNCIAS
MEGGS, Philip. História do Design Gráfico.1. Edição. ed. Cosac & Naify, 2009
Texto desenvolvido por Kadja Alleska Simplício de Lima sob a orientação do Prof. Dr. Rodrigo Boufleur, para a disciplina Introdução ao Estudo do Design. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design” (http://estudossobredesign.blogspot.com) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2019.