Séculos antes da invenção da prensa móvel de Gutenberg, considerada pela história a primeira a imprimir um livro tipográfico utilizando os intricados sistemas e subsistemas para a impressão, os povos chineses foram os responsáveis pelo invento e desenvolvimento de técnicas e processos na produção de tintas, papel, impressão em relevo e xilográfica e a impressão com caracteres móveis de argila. Estes avanços tecnológicos da época demonstram o valor do trabalho chinês na disseminação da palavra impressa.
A impressão chega a Europa por volta do século XIV através de xilogravuras em tecidos e jogos de cartas, estes considerados a mais antiga forma de manifestação do poder de democratização da imprensa, já que eram de fácil acesso a um público iletrado. A utilização da xilogravura como principal forma de impressão não era uma alternativa viável para longos textos, e fatores como a grande disponibilidade de papel e a crescente demanda por livros na Europa instigou diversos impressores a buscar meios de mecanizar sua produção por meios como o tipo móvel.
De acordo com Philip B. Meggs, “A impressão tipográfica não se desenvolveu diretamente da xilografia porque a madeira era frágil demais. Essa técnica permaneceu popular entre os chineses porque o alinhamento entre os caracteres não era decisivo e era inconcebível ordenar mais de 5 mil caracteres. Por outro lado, a necessidade de alinhamento exato e o modesto sistema alfabético de cerca de duas dúzias de letras tornavam a impressão de textos a partir de tipos independentes, móveis e reutilizáveis, altamente desejável no Ocidente.” (Meggs, 2009, pág. 97).
Nesse contexto de busca por inovações, surge a prensa de tipos móveis de Gutenberg. Johan Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, por volta de 1450, foi o responsável pela criação do primeiro processo, viável, capaz de produzir o primeiro livro impresso com tipos móveis para a história. Suas habilidades de trabalho com metais e gravações foram imprescindíveis para o desenvolvimento dos tipos de metal, tanto que o segredo para o sucesso da impressão de Gutenberg está no molde de
tipos, desenvolvido para engendrar os caracteres do alfabeto. Estes caracteres eram inicialmente gravados em uma punção de aço, onde se obtinha o chamado patriz. Através do cunho dessas punções se criavam as matrizes em um barra de cobre, no entanto, depois de cunhadas as matrizes apresentavam deformações, então era necessário retificá-las. Depois disto, eram criados moldes que permitiriam ao fundidor de tipos produzir caracteres em relevo, para assim, finalmente serem utilizados na impressão.
Diante do invento da impressão com tipos de metal houve, concomitantemente, o desenvolvimento de um clima de competição entre os copistas e os primeiros impressores. Fato que interferiu na escolha do estilo de tipo utilizado na Bíblia de 42 linhas de Gutenberg. Ele desenvolveu um tipo com textura compacta e quadrada comumente vista em trabalhos de escribas da época. “Esse tipo sem curvas sutis foi tão bem desenvolvido que os caracteres na Bíblia de 42 linhas mal podem ser distinguidos de uma boa caligrafia.” (Meggs, 2009, pág. 97).
Além da produção de tipos especiais, Gutenberg também criou um tipo de tinta espessa e pegajosa através da mistura de óleo de linhaça fervido e tingido com negro de fumo. A tinta precisava ter uma consistência mais encorpada, diferente da que os gráficos do período utilizavam em blocos de madeira, para que não escorresse pelos tipos de metal no momento do processo de impressão. Ele também criou o próprio papel aplicado em sua obra, de modo que é correto dizer que Gutenberg
criou cada item utilizado no seu processo de impressão.


(molde de tipos)
(homens trabalhando na prensa de gutenberg)
Diante do invento da impressão com tipos de metal houve, concomitantemente, o desenvolvimento de um clima de competição entre os copistas e os primeiros impressores. Fato que interferiu na escolha do estilo de tipo utilizado na Bíblia de 42 linhas de Gutenberg. Ele desenvolveu um tipo com textura compacta e quadrada comumente vista em trabalhos de escribas da época. “Esse tipo sem curvas sutis foi tão bem desenvolvido que os caracteres na Bíblia de 42 linhas mal
podem ser distinguidos de uma boa caligrafia.” (Meggs, 2009, pág. 97).

(página da B-42)
Além da produção de tipos especiais, Gutenberg também criou um tipo de tinta espessa e pegajosa através da mistura de óleo de linhaça fervido e tingido com negro de fumo. A tinta precisava ter uma consistência mais encorpada, diferente da que os gráficos do período utilizavam em blocos de madeira, para que não escorresse pelos tipos de metal no momento do processo de impressão. Ele também criou o próprio papel aplicado em sua obra, de modo que é correto dizer que Gutenberg criou cada item utilizado no seu processo de impressão.
Entre os primeiros itens impressos, destaca-se grande maioria sendo de cunho religioso. Considerando que todo o desenvolvimento da impressão se deu no âmago de tensões religiosas, encontra-se poemas sobre o juízo final, variados livros religiosos e indulgências dadas pelo papa, sendo as mais antigas datadas de 1454, emitidas em Mainz, que rendiam recursos aos membros do clero. Sem contar seu item impresso mais famoso que foi a Bíblia de 42 linhas, concluída em 1456.
Apesar de nunca ter sido capaz de concluir a Bíblia ele mesmo, perder seu invento por dívidas e morrer sem o devido reconhecimento, o invento e o processo de Gutenberg permaneceram em uso por volta de 400 anos, contando com pequenas alterações para otimizar o seu funcionamento, demonstrando o quanto seu esforço foi fundamental para incentivar a difusão da palavra escrita.
A tipografia não se limitou a ficar na Alemanha, ainda que sua expansão tenha ocorrido de forma desastrosa. “Nobres alemães se envolveram em lutas pelo poder que explodiram em uma guerra em grande escala. Liderando um considerável exército, Adolfo de Nassau invadiu Mainz em 1462 e saqueou a cidade. O saque e a pilhagem interromperam os ofícios e o comércio. Avisos procedentes de outras cidades por onde Adolfo passava possibilitaram que muitos comerciantes e artesãos de Mainz carregassem tudo o que era possível em carroças e fugissem. Muitos jovens gráficos e aprendizes não voltaram. Com isso, logo começaram a ser estabelecidas tipografias em locais distantes como a França e a Itália.” (Meggs, 2009, pág. 104).
Diante disso, foi na cidade de Veneza, Itália, que os livros tipográficos ganharam novos caminhos no design. Em 1465, os impressores alemães Conrad Sweynheym e Arnold Pannartz são convidados a fixar uma gráfica na Itália, onde iniciam a desenvolver os primeiros passos para um tipo romano. Os primeiros impressos na Itália seguiam o estilo de impressão alemão, “capitulares, fólios, cabeçalhos e marcas de parágrafo não eram impressos. Deixava-se espaço para que fossem rubricados com tinta vermelha por um escriba. Muitas vezes, uma letra minúscula era impressa no espaço deixado para uma inicial em iluminura para dizer ao escriba qual inicial desenhar. Em muitos incunábulos, as marcas de parágrafo acabaram não sendo desenhadas nos espaços reservados. Por fim, o espaço em branco por si só indicava um parágrafo.” (Meggs, 2009, pág. 121).
Os irmãos, alemães, Johann e Wendelin Speyer se estabeleceram em Veneza no ano de 1468. Na publicação de seu primeiro livro (Epistolae ad Familiares (Cartas a familiares), de Cícero, em 1469) notava-se a utilização de tipos romanos, descartando as características góticas comumente usadas na época.

(página do livro Epistolae ad Familiares)
As gráficas chegaram à França. No ano de 1470, os alemães Ulrich Gering, Michael Freiburger e Martin Kranz estabelecem uma oficina tipográfica em Paris. Inicialmente receberam patrocínio para manter a oficina, e utilizavam tipos de estilo romano inspirados nos italianos, mas após perder seu patrocinador começaram a trabalhar com tipos que os franceses eram mais habituados, os góticos.
Impressores xilográficos e tipográficos se uniram para recriar manuscritos iluminados. “As iluminuras góticas tardias foram o auge da arte francesa da época e as primeiras impressões na França cercaram seus tipos góticos e ilustrações xilográficas com blocos modulares que preenchiam o espaço com flores e folhas, pássaros e animais, padrões e retratos. [...] As Horae Beatus Virginis Mariae (Horas da abençoada Maria) de Philippe Pigouchet estabeleceram a excelência gráfica dessa forma popular de livro.” (Meggs, 2009, pág. 122).
Logo gráficas se espalharam por toda a Europa e impressores chegaram a vários países, lá se fixaram e iniciaram a desenvolver seus estilos e aplicar em impressões, levando em consideração e influenciando a cultura local. Depois de iniciada a revolução na forma de escrever, as portas estavam abertas para novas criações e o limite para o novo era a imaginação do criador. A composição com tipos móveis foi um impulsionador da palavra escrita.
REFERÊNCIAS
Fundição de Tipos, letras de chumbo. Disponível em: http://www.tipografos.net/tecnologias/fundicao-tipos.html
Gutenberg, Johannes: o inventor da Tipografia. Disponível em: http://www.tipografos.net/historia/gutenberg.html
MEGGS, Philip. História do Design Gráfico. 1. Edição. ed. Cosac & Naify, 2009
Texto desenvolvido por Ana Clara Cunha de Moura sob a orientação do Prof. Dr. Rodrigo Boufleur, para a disciplina Introdução ao Estudo do Design. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design” (http://estudossobredesign.blogspot.com) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Artes - Bacharelado em Design - Novembro de 2019.